terça-feira, 17 de março de 2009

Bergman e seu tratado sobre o casamento

Difícil não reverenciar o incrível Ingmar Bergman nos quase 300 minutos de "Cenas de um casamento". Assisti espaçadamente durante essas duas semanas que se passaram (são seis episódios de mais de 45 min cada) e achei tudo tão tristemente brilhante!... Depois do filme do Sam Mendes (Foi apenas um sonho), também sobre os percalços da vida de um casal, me pareceu bem propício arranjar coragem para encarar a maratona que nos impõe o diretor sueco. E que coisa estupenda é a definição de matrimônio proposta por ele! Num universo onde nada é coerente ou racional, onde as emoções e os pressupostos lógicos se reviram como numa roda gigante muito veloz, eu nunca tinha reconhecido no cinema com tanta clareza os deleites e delírios de uma duradoura relação amorosa. Entre diálogos absurdamente reais e atuações impagáveis (de Liv Ullmann e Erland Josephson, os dois na foto como o casal Marianne e Johan), Bergman disseca a vida a dois, e como Sam Mendes, não alivia em representar a tragédia da convivência conjugal, ao mesmo tempo em que demonstra a complexidade do relacionamento amoroso; este turbilhão que se esfacela e se deteriora, mas inexplicável e paradoxalmente mantém-se pela memória, pela força da convivência e renasce das cinzas. As melhores cenas ocorrem entre os difíceis diálogos do casal, permeados por beijos, gritos, sexo, agressões e declarações de amor. Tudo ao mesmo tempo agora. Belíssimo e assustador!

Um comentário:

Otávio Lago disse...

Basta um pequeno trecho pra saber o quão pesada é essa obra (pelo menos foi a minha impressão).

Tudo é muito controverso entre o casal. Eles se amam e se odeiam (tá bom... todo casal é assim! rs) e, justamente por isso, dividem momentos extremamente intensos de erotismo e violência, sem contar os intervalos de um cansaço quase anestesiante...

Muito bom, Émile!
Depois quero ver o filme (pode-se chamar isso de "filme"?) inteiro.