Sexta-feira perdemos o maior escritor de língua portuguesa que restava entre nós: José Saramago. É impossível me furtar ao ímpeto de escrever alguma coisa para (sobre) ele neste blog, já que eu sou uma fã desde que li O Evangelho segundo Jesus Cristo, que me deixou estarrecida e completamente viciada no seu estilo prolixo, verborrágico e com aquela difícil pontuação. Leio Saramago há mais de 12 anos e posso dizer que ele mudou a minha vida. O velho me ensinou a rever um milhão de conceitos, além de contribuir definitivamente para a concretização teórica do meu ateísmo. Emocionei-me com mulher do médico e sua tesoura vingativa no Ensaio sobre e cegueira, chorei muitas lágrimas com José e seu amor platônico em Todos os nomes, apaixonei-me por Blimunda e seus poderes em Memorial do Convento. Enfim, eu gostava inclusive do mau humor de Saramago ao responder a determinados jornalistas despreparados, e invejava a sua produção frenética, porque eu não tenho nem trinta anos e o danado com mais de 80 e muitos mantinha um blog muito mais atualizado que o meu além de publicar pelo menos um livro por ano. Nem a minha pantagruélica fome de livros deu conta de ler toda a produção dele nos últimos três anos. Morre com ele não apenas o único escritor de língua portuguesa a ganhar um Nobel, mas também um homem do mundo que não se calava diante de nenhum acontecimento político e sempre tinha opinião para tudo - o que, a meu ver, é uma das tarefas mais árduas de um intelectual. A sua inabalável consciência não morre com ele, ela fica em mim como uma marca bem profunda pro resto da vida. Obrigada, Saramago, por ter me mostrado o que é ser um ser humano de verdade.
Um comentário:
Me identifiquei muito com o seu texto e a admiração por Saramago.
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