quinta-feira, 11 de março de 2010

Do inexorável tempo

Eu poderia dizer que minhas aspirações e minhas ansiedades estão bordadas no meu corpo como a tatuagem que eu carrego atrás da orelha há uns 10 anos. Não sei lidar com a duração das coisas, por exemplo, não sei precisar há quanto tempo levo comigo um ideograma japonês que decidi, dentro de um estúdio moderninho com mil desenhos diferentes, grudar na minha carne ainda fresca e quase sem passado. Também não sei esperar, não sei conviver com esses malditos momentos em que nada acontece enquanto aquilo que se espera que aconteça de fato ocorra. Bato os pés no chão impaciente e muito aborrecida por não ter o poder de controlar os ponteiros dos relógios, as areias das ampulhetas e o berro irritante daqueles cucos antigos pendurados nas paredes das casas das avós. O desejo de controlar o tempo deve ser quase o mesmo de querer dominar a própria vida, essa sublime caminhada em direção ao nada, desprovida de qualquer entendimento e de qualquer precisão. É muito triste ter de reconhecer socraticamente que nunca saberemos de nada e que, ao fim e ao cabo, só vai restar o tempo, ele sozinho, cheio de ponteiros e tic-tacs, sorrindo de tudo e de todos. Realizadíssimo, enfim, de ter cumprido com a ordem do mundo e, talvez, com um pouquinho de saudades...
Émile Andrade (madrugada de 11 de março)

5 comentários:

Léo Tavares disse...

"Também não sei esperar, não sei conviver com esses malditos momentos em que nada acontece enquanto aquilo que se espera que aconteça de fato ocorra."

Ah, que difícil que é lidar com os momentos-hiato da vida, e o estranho é que a vida parece ser constituída deles, digamos, uns 95%... O resto são as nossas realizações, e nem estas vêm da forma como a gente idealiza. Isso me faz pensar que a nossa realidade, idealizada, grande parte dela feita dos nossos anseios, das nossas esperas, com toda uma carga de angústia e vazio, é uma realidade forjada. Talvez seja humanamente impossível ver as coisas como elas são de fato. Talvez a gente veja mais no mundo o que está subentendido, do que o que está latente. Talvez seja por isso que quando pequenas alegrias vêm mascaradas de grandes felicidades: a gente coloca uma lente de aumento tanto sobre as coisas boas quanto sobre as ruins...
E talvez eu esteja errado e seja um puta pessimista, mas... ah, sei lá se estou sendo coerente, hehe
beijos

Emile disse...

Muito boa, Leo! Penso exatamente dessa forma. Bom te ver aqui no meu blog, seja bem vindo!!!

talvez Mari, talvez não. disse...

É horrível pensar que a vida é uma caminhada de nenhum lugar pra lugar nenhum. Não gosto de pensar. Me deprime. Vivo agora e no agora tá tudo superbe! Deixo esse pensar pra depois!
Mas também é isso que eu penso, quando eu penso... haha =/

Digs! disse...

Outra coisa interessante do tempo é a sua relatividade. Nos momentos que mais precisamos de um tempo, ele nos faz correr e nunca dá tempo para chegar ou quando queremos tanto que ele voe, faz questão de ir devagar ou quando estamos nos divertindo, amando, ele simplesmente parece pouco, mas queremos estender para um dia de 30horas ou quando chegamos naquela sexta-fera, que não acaba, querendo que dia acabe logo, para curtimos a madruga de sábado, e ir para o melhor tempo: o final de semana.

Emília disse...

"Tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda eu sei pra você correr macio (...)Tempo amigo, seja legal, conto contigo pela madrugada, só me derrube no final..."