quinta-feira, 26 de março de 2009

Aureliano e o mundo de Macondo: para Débora Salles

Resolvi não deixar a Débora na ansiedade por muito tempo e hoje vou relembrar com muita saudade um dos meus personagens preferidos (sim, meu também, Débora): Aureliano Buendía. Para aqueles que sofrem com a confusão proposital gerada pela repetição dos nomes, aí acima está a famigerada árvore genealógica da família mais incrível da literatura ocidental, protagonista de uma das maiores aventuras literárias do planeta: Cem anos de solidão. Quando li pela primeira vez o livro de Gabriel García Márquez foi uma epifania. Foi aí que eu descobri que a gente pode ficar enfeitiçado com a combinação escrita de determinadas palavras. É possível fazer com as letras a mesma coisa que os ilusionistas fazem com cartas de baralho, cartolas com coelhos, lenços e pombas e caixas com jogos de espelho para cortar pessoas ao meio. Pra mim, Aureliano é isso: um truque de García Márquez para encantar o leitor e claro, realizar a famosa "trapaça com a língua" de que fala o Roland Barthes lá no texto "Aula". Nunca vou esquecer a primeira frase do romance, o início do encantamento: "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo." E tudo é muito fascinante mesmo: a chuva de flores amarelas, os peixes nadando e entrando pelas janelas das casas de Macondo, a epidemia de insônia, o filete de sangue de José Arcádio que vai até Úrsula, a assunção de Remédios, a bela...
O coronel Aureliano Buendía promoveu trinta e duas revoluções armadas e perdeu todas. Escapou de um pelotão de fuzilamento e de emboscadas, para morrer urinando com a testa apoiada em um castanheiro. (Essa tela representa a morte dele: de pé, com a cabeça encostada na árvore. Não encontrei o nome do autor da pintura). Ironia típica do escritor colombiano, Aureliano morre sem a solenidade de suas empreitadas bélicas e sem a beleza mitológica da fabricação (e desmanche) de peixinhos dourados com a qual se ocupou durante um bom tempo. Mais um homem comum (se é que algo pode ser comum neste universo de García Márquez) atravessando os oníricos e solitários bosques da ficção, como diria Umberto Eco, e fazendo-se presente na vida de alguns também solitários e oníricos leitores. Como não amar Macondo e seus personagens etéreos? Obrigada, Débora, por me obrigar a escrever este post e me fazer retornar por alguns instantes ao mundo daquele povoado fantástico. Te adoro, eterna orientanda!!!

3 comentários:

Débora Sales disse...

Poucas vezes me emocionei lendo algo. Uma das vezes foi ao ler Cem Anos de Solidão...
E nunca, nunca me apaixonei por um personagem. Até encontrar o Coronel Aureliano Buendía.

García Márquez disse que sofreu (ao ponto de passar duas horas chorando) ao ter que matar o coronel...
E eu tive que suportar, como se fosse a de alguém próximo, a morte desse personagem. Me lembro que chorei, assim como o autor.

Me apaixonei tanto pela história linda e dramática dessa família e por Aureliano, que tive a audácia (e pretensão, rsrs) de fazer minha monografia baseada neles.
Ainda bem que tive como companheira e ORIENTADORA (em letras maiúsculas) a Émile, que divide comigo o "encantamento" que o García Márquez provoca em seus leitores.

E eu é que agradeço...
Valeu a pena insistir e esperar pelo post.
Só aumentou a minha paixão...
Rsrsrsrsrs.

Te amo, minha eterna ORIENTADORA.

Alexandre Kovacs disse...

Alguns críticos gostam de afirmar que a confusão de nomes é proposital, um efeito de Márquez para trazer o leitor até o universo fantástico de Macondo. Da segunda vez que li este romance, em uma versão traduzida para o inglês (não me pergunte por que fui ler esta versão), acompanhei a árvore genealógica similar à que você postou e achei ótimo! Um livro maravilhoso, estou com a versão comemorativa da Real Academia Espanhola aguardando aqui em casa para uma nova releitura.

Marina disse...

Não é uma chuva de flores amarelas, são muitas BORBOLETAS amarelas, que aparecem sempre que Maurício Babilônia está por perto.