quarta-feira, 22 de abril de 2009

"Leite Derramado" de Chico Buarque

Terminei o livro do Chico hoje (obrigada, Agatha pelo livro!). Grande exemplo de como se faz boa literatura no século XXI. Narrador delirante e cheio de coisas pra contar, o tal Eulálio é a representação de um Rio de Janeiro muito interessante, porque concentra desde o glamour dos tempos monárquicos ao decadente momento atual. Personagem que oscila entre a decrepitude e a força intensa de uma memória confusa, afetiva e às vezes alucinada, Eulálio elabora uma saga caracterizada pela decadência social e econômica da família, utilizando a história do Brasil dos últimos dois séculos para oferecer ao leitor uma paisagem bastante realista: apadrinhamentos, preconceitos de classe, racismos, oportunismos, delinquências, e por aí vai. Confesso que Budapeste, o livro anterior de Chico Buarque, me chamou mais a atenção, não sei se pelo tema metalinguístico ou pela estrutura circular que o envolve (coisa que também acontece no Estorvo e em Benjamim, outros romances do autor). De qualquer forma, vale muito a pena ler Chico Buarque em qualquer texto (seja letra de música, teatro ou romance) e eu me divirto muito lendo as bobagens de alguns críticos ideologicamente ressentidos que não conseguem entender que o tempo passa, as pessoas mudam e suas produções também. Palmas para o Chico e cuidem em lê-lo para depois não chorarem pelo leite derramado...

2 comentários:

Ewerton disse...

Acerca desses tais críticos ressentidos, de que seu texto fala, Émile:
Parece-me que a atitude crítica deles se pauta, basicamente, por dois aspectos: primeiro, em razão de um certo despeito, mesmo, em relação a livros que alcançam êxito editorial junto ao público leitor, seja pelas qualidades do livro, seja pelo renome consagrado (pelo público, mesmo, quer se goste ou não) de seu autor; em segundo lugar, acredito que isso se dê por uma certa crença no "mito da originalidade", o que pressupõe que todo escritor, em cada nova obra, deva ser necessariamente "original" em relação aos autores/obras anteriores.
Creio que esses críticos deveriam ler, só para começar, "Tradição e talento individual", do T.S. Eliot, e alguns textos teórico-críticos sobre literatura comparada, dentre os quais destacaria "Cânon" do Roberto Reis, e "Literatura e cultura na América Latina",do Ángel Rama. Isso possibilitaria uma certa abertura de certos horizontes críticos...

Emile disse...

Arrasou!! Beijo, Ewerton!